José Antonio Martino
Após a Segunda Guerra Mundial, com a intensificação
do estudo da língua inglesa em virtude da enorme propaganda americana através
do cinema, livros, revistas, bolsas de estudo, etc e, sobretudo nos últimos
anos com o advento da informática em nossas vidas e a consequente globalização,
uma enxurrada de vocábulos ingleses veio inundar o léxico português. Estes
estrangeirismos – essencialmente de caráter lexical – entram no idioma por
assimilação cultural e, aos olhos dos puristas mais radicais e patrióticos,
tais trocas linguísticas correspondem a um aviltamento e degradação não só do
vernáculo, mas do próprio país subserviente. Esse tipo de patriotismo linguístico
é antigo e já os filólogos gregos haviam banido os vocábulos turcos do léxico.
Em Portugal, até hoje se encontra repulsa ao galicismo, em função dos excessos
cometidos pelos soldados de Junot, quando Napoleão ordenou a invasão daquele
país.
Ninguém
de bom senso há de censurar as palavras da língua inglesa quando elas são
realmente necessárias, pois os estrangeirismos correspondem a uma valiosíssima
contribuição, especialmente se a língua não possui termo para substituir
adequadamente aquilo que se quer expressar. Inúmeras são as contribuições que
só vêm enriquecer o vernáculo, por exemplo, as formas já aportuguesadas como bife, vagão, ringue, beque, sanduíche, clube,
etc, e mesmo aquelas formas ainda não aportuguesadas, mas que o uso comum já
aceitou como software, hardware,
marketing, shopping center, show, jet ski e skate. O que se condena é o
abuso dos anglicismos apenas por mero modismo ou débil tentativa de mostrar uma
falsa erudição. Se a palavra já existe em língua portuguesa, não há motivo para
preteri-la por outra alienígena. Tal fenômeno linguístico denomina-se
barbarismo (para os latinos, bárbaro era todo estrangeiro) e trata-se de um
vício de linguagem apenas quando o vocábulo não é imprescindível para o idioma.
Por exemplo, por que empregar o termo deletar,
se possuímos em português tantas outras palavras equivalentes que o substitui
com vantagem, como apagar, desfazer, extinguir, eliminar, anular, cancelar,
delir ou suprimir? Chegam mesmo a serem irritantes certos barbarismos como printar, estartar, playzar (argh!!!),
weekend, bike, fast-food, sale, expert, delivery,
sem enumerar outros que agora a televisão faz a gentileza de divulgar como se
fosse a quinta-essência da comunicação entre os povos do terceiro milênio. Até vinte
anos atrás, os nossos cineastas faziam refilmagem ou remontagem de uma novela
ou uma produção cinematográfica. Infelizmente, hoje temos de assistir ao remake de um filme. Da mesma forma, os
nossos desportistas chegavam às finais do campeonato, ao passo que hoje, jogam playoffs. Lamentavelmente, o idioma em que Camões
cantou e Camilo escreveu vai se tornando aos poucos um caçanje miserável.
Valorize a língua portuguesa! Ela é tão rica e funcional quanto qualquer outra.
E como sabiamente já disse Horácio em sua Arte
Poética “muitas palavras que já caíram renascerão, e as que agora estão em
voga e estimação também hão de cair se assim quiser o uso, o qual é o juiz, o árbitro e a regra da linguagem”.
(o autor permite a reprodução deste texto, desde que seu nome seja citado)
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