domingo, 10 de junho de 2012

Inculta e bela: neologismos e contribuições linguísticas


      José Antonio Martino

      Após a Segunda Guerra Mundial, com a intensificação do estudo da língua inglesa em virtude da enorme propaganda americana através do cinema, livros, revistas, bolsas de estudo, etc e, sobretudo nos últimos anos com o advento da informática em nossas vidas e a consequente globalização, uma enxurrada de vocábulos ingleses veio inundar o léxico português. Estes estrangeirismos – essencialmente de caráter lexical – entram no idioma por assimilação cultural e, aos olhos dos puristas mais radicais e patrióticos, tais trocas linguísticas correspondem a um aviltamento e degradação não só do vernáculo, mas do próprio país subserviente. Esse tipo de patriotismo linguístico é antigo e já os filólogos gregos haviam banido os vocábulos turcos do léxico. Em Portugal, até hoje se encontra repulsa ao galicismo, em função dos excessos cometidos pelos soldados de Junot, quando Napoleão ordenou a invasão daquele país.
      Ninguém de bom senso há de censurar as palavras da língua inglesa quando elas são realmente necessárias, pois os estrangeirismos correspondem a uma valiosíssima contribuição, especialmente se a língua não possui termo para substituir adequadamente aquilo que se quer expressar. Inúmeras são as contribuições que só vêm enriquecer o vernáculo, por exemplo, as formas já aportuguesadas como bife, vagão, ringue, beque, sanduíche, clube, etc, e mesmo aquelas formas ainda não aportuguesadas, mas que o uso comum já aceitou como software, hardware, marketing, shopping center, show, jet ski e skate. O que se condena é o abuso dos anglicismos apenas por mero modismo ou débil tentativa de mostrar uma falsa erudição. Se a palavra já existe em língua portuguesa, não há motivo para preteri-la por outra alienígena. Tal fenômeno linguístico denomina-se barbarismo (para os latinos, bárbaro era todo estrangeiro) e trata-se de um vício de linguagem apenas quando o vocábulo não é imprescindível para o idioma. Por exemplo, por que empregar o termo deletar, se possuímos em português tantas outras palavras equivalentes que o substitui com vantagem, como apagar, desfazer, extinguir, eliminar, anular, cancelar, delir ou suprimir? Chegam mesmo a serem irritantes certos barbarismos como printar, estartar, playzar (argh!!!), weekend, bike, fast-food, sale, expert, delivery, sem enumerar outros que agora a televisão faz a gentileza de divulgar como se fosse a quinta-essência da comunicação entre os povos do terceiro milênio. Até vinte anos atrás, os nossos cineastas faziam refilmagem ou remontagem de uma novela ou uma produção cinematográfica. Infelizmente, hoje temos de assistir ao remake de um filme. Da mesma forma, os nossos desportistas chegavam às finais do campeonato, ao passo que hoje, jogam playoffs.  Lamentavelmente, o idioma em que Camões cantou e Camilo escreveu vai se tornando aos poucos um caçanje miserável. Valorize a língua portuguesa! Ela é tão rica e funcional quanto qualquer outra. E como sabiamente já disse Horácio em sua Arte Poética “muitas palavras que já caíram renascerão, e as que agora estão em voga e estimação também hão de cair se assim quiser o uso, o qual é o juiz, o árbitro e a regra da linguagem”.

(o autor permite a reprodução deste texto, desde que seu nome seja citado)
            

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